sábado, 23 de julho de 2011

Luz

- Bom acho que vocês entenderão melhor conhecendo a minha historia.
" Eu tinha apenas 4 anos quando minha família foi  brutalmente assassinada. Era ano se 1850, todos foram mortos, inclusive eu. Era uma tarde de segunda feira, minha mãe acabara de voltar da colheita e estava preparando o jantar. Estávamos todos lá, meus pais estavam felizes pois minha irmã mais velha acabara de se casar com um rapaz da cidade. O que trouxe muitas esperanças novas à minha família, uma vida melhor nos aguardava. Longe daquela fazenda tudo seria mais fácil. Mas não tivemos a chance de contestar isso."
"A minha passagem foi interessante, por mais estranho que pareça, tudo se passou na velha estação de trem. A qual por sinal não deveria ser chamada de estação, era apenas uma plataforma de concreto, equipada com dois pequenos toldos furados, deveria ter o tamanho dessa sala. Lembro que era noite, meus pais me chamavam para dentro do trem que anunciava a partida. Mas eu, fui estúpido e quis ficar olhando as estrelas por um tempo. Estavam estranhamente bonitas aquela noite. No fim, meus pais se foram."
"Só depois que eles já haviam partido percebi as marcas de tiro nas minhas roupas, e o sangue que havia se espalhado pelo meu corpo. Aquilo não doía. Sentei na perto dos trilhos e esperei o  próximo trem. Como podem ver , ele não chegou."
"Acordei alguns dias depois na minha cozinha, os corpos dos meus familiares ainda jaziam sobre a mesa. Meus ferimentos haviam sumido, e quando olhei no espelho, eu já não tinha a mesma forma. Foi então que descobri o que eu era."
- Sinto muito -  disse Joe, ele entendia o que o homem havia passado
- Não sinta, eu estou feliz, ou pelo menos eu finjo bem. Sabe - ele se dirigiu ao espelho próximo à entrada da cozinha - todas as manhãs eu acordo e penso"o que eu vou ser hoje?", eu posso escolher ser um menino de rua com a sua bola, ou ser uma velhinha de óculos indo fazer compras na feira, e alem disso eu posso me curar com facilidade, não existem cicatrizes daqueles tiros. Mas toda, toda vez que eu vejo meu reflexo, a única pessoa que eu queria ser era aquele menino na estação de trem. Se eu pudesse voltar... eu teria partido  com as pessoas que eu amava. Porque faz mais de 150 anos que eu assisto mais e mais pessoas morrendo,  eu permaneço, apenas para contar as historias do que poderia ter sido.
- É estranho pensar desse jeito, não seria melhor seguir em frente?
- Para onde você espera que eu vá? Para o inferno? Eu já estou nele. - ele tinha sofrimento na voz - Bem, vamos continuar.
"Os anos foram passando e eu fui descobrindo mais dons. Além de poder me transformar em qualquer pessoa e poder me curar, comecei a voltar alguns minutos no tempo, conseguia controlar a energia eletrica, fazia as pessoas sentirem dor  e falava  com fantasmas. Foi assim que conheci Luci. Ela me contou sobre Sofie."
- O que exatamente ela te disse?
- Na primeira vez, ela me perguntou como mata-la, como fazê-la sofrer. Na segunda vez ela estava preocupada e muito assustada.
- O que pode assustar um fantasma? - perguntou com uma ironia exagerada nos lábios.
- Quase nada. Ela me contou sobre seu novo professor de inglês Joe.
- O professor Silan? O que ele tem a ver com a historia?
- Ele, nada. Mas os sobrinhos deles. Quase tudo. O fato é que nem todos os renascidos são legais e amigáveis. Alguns são insaciáveis. E quando estamos falando dos escolhidos, temos que tomar muito cuidado.
- Como o que?
- Bom, há alguns anos, tive a chance de conhecer Maya. Ela é o que chamamos de renascida das sombras. Como eu sou um filho da Luz fiquei curioso e fui averiguar. E vou avisando, ela não é boa pessoa.
- Como ela pode nos atingir?
- Simples,  ela consegue induzir as pessoas a fazerem coisas horríveis e só os mortos podem vê-la. Ela vaga pelos lugares em forma de sombra, algo maligno que pode perturbar os mais corajosos. Fiquei sabendo que Sofie desmaiou em sala não foi ?
- Sim, mas...
- Mas??
- Ela costuma fazer isso.
- Desde quando?
-Desde que nós contamos o que ela era. - disse Kevin baixinho, a ironia da sua voz havia sumido, agora só havia um ar tenso pairando sobre a sala .
- Detesto dizer, mas a essa hora, um bom numero de renascidos já deve estar em sua cidade atrás de Sofie.
- O que? Deixa eu entender uma coisa. Tudo bem ela ser uma das escolhidas, ser especial e tal. Mas porque estão atrás dela? Porque não atrás de você? Ou dessa Maya? E o que são os sobrinhos de Silan? Eles são...
- Escolhidos? Sim eles são dois escolhidos, mais exatamente Corpo e Mente. Irónico não?! -ele sentou-se e tomou mais um gole do chá.
- Mas quanto à Sofie?
- Bom, ela é bem jovem, carne nova. - ele riu baixinho - Pelo menos foi o que eu pensei no começo. Até que refiz as contas. Fora  o som, todos têm um oposto. Luz e sombra, corpo e mente, vida e ...
- Morte...- disse Joe baixinho, num som quase inalditivel.
- Exato, morte. É por isso que a querem, ela domina  sobre todos os outros. A morte pode acabar com o fogo, com a agua, com o ar e com a terra. O equilíbrio será quebrado se a Morte perecer.
- Preciso ligar para ela agora. - disse Joe pegando o celular e discando o numero.
- Acho que não precisa...
Uma toque idêntico ao de Sofie tocou dentro da cozinha, e de lá, ainda vestindo chinelos e pijama, saiu Sofie aos prantos. Ela correu para os braços de Joe e o abraçou forte.
- Como você chegou aqui?
- Eu não faço ideia- ela soluçava dentre as palavras - só sei que precisava falar com você urgentemente e vim parar aqui.
- O que aconteceu?
- Isso. - ela abriu a mão e deixou à mostra o papel, onde ela havia transcrito as palavras do se sonho e as do seu espelho. - O que quer dizer?
- Acho que eu posso te explicar melhor. - disse Pedro se ajeitando na poltrona - me falaram que você lê livros apenas no toque. Pode fazer isso com humanos também ?
- Não sei, eu nunca ...
- Tente - ele esticou a mão para tocar a dela. Ela respondeu segurando a dele.
Foi apenas ele pensar no que queria dizer a ela que instantaniamente ela absorveu cada informação apenas no toque de alguns segundos. Ela secou as lágrimas e olhou par todos na sala:
- Isso é verdade?
- Acreditamos que sim Sue.
- E o que faremos agora?
- Onde você estiver eles vão te encontrar, eles podem te rastrear como você os rastreou - disse olhando para Kevin e Joe - todos nos devemos ir para sua cidade, descobrir que esta conosco e quem esta contra nós. Assim saberemos o que fazer.
- Vou ligar para o aeroporto.
- Não precisa, sei de um jeito mais rápido. - disse Sofie
A sala ficou vazia em segundo, restando apenas uma xícara de chá pela metade e um papel com a profecia amassada.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Canais de Veneza (dedicado à Eloiza, minha amiga linda *-*)

O a pista de decolagem refletia o sol da manhã. Joe e Kevin, estavam próximos ao seu carro quando uma das balconistas, um pouco desesperada, chamava por eles:
- Signori, signori, attendere !!
-Desculpe, mas nós não fa...- tentou dizer Kevin mas a garota interrompeu
- Vocês são Kevin e Joe? - disse pausadamente, seu sotaque dificultava as coisas.
- Sim, somos nós. - os dois se entreolharam, tentando entender como ela sabia que estavam ali.
- Molto bene. Mì senhor pediu para que eu lhes desse isso- ela buscou alguma reação do rosto dos dois, mas quando não viu nada continuou - Ela espera por vocês. Li vedo dopo.Ciao.
Ela virou-se e se foi. Deixando com eles um pequeno cartão. Sem nome, sem telefone, somente um endereço "Sestiere Cannaregio, 576".
- Será que...devemos ir?
- Acho que sim. Afinal, temos que começar em algum lugar. E quem sabe... esse seja o lugar.
****
- Acredito que este é o lugar. - disse Joe, conferindo o endereço no cartão - numero 576... é , é aqui sim.
- Casa amarela, dois andares e com janelas verdes? - ele riu - Que fofo e amigável. - o tom de ironia de sua vos fez Joe rir, mas por pouco tempo.
Uma senhora baixinha, de cabelos prateados e óculos redondos com cordão de pedras vermelhas apareceu na porta. Parecia apenas uma velha secretaria, saindo pra tomar um café, ou algo assim. Seu vestido florido deixava aparecer suas sandalhas um tanto gastas. Quando eles acharam que ela sairia e iria em direção ao restaurante, ela os surpreendeu.
- Já não era sem tempo senhores. - Ela abriu a porta e apontou para dentro - O senhor Alguste esta esperando por vocês.
Kevin colou no ouvido e coxixou
- Velhinhos... só o que faltava. Eu falei que deveríamos ter almoçado antes.- levantou a cabeça e sorriu para a senhora, que não retribuiu o cinismo.
- Esperem na sala principal.
Apesar dos anos, a cidade não mudava muito. Os prédios e construções continuavam os mesmos mesmo depois de alguns séculos. As casa, apesar de parecer pequena, era muito grande. Decorada com muito bom gosto, em todos os lugares que os olhos alcançavam haviam objectos antigos e de requinte. A cor bege dominava o ambiente, que era iluminado por luzes fracas o que fazia a sal parecer ainda mais elegante. Das janelas, podia-se ver dentre as finas cortinas brancas,a praça e o movimento das árvores com o vento. O fraco aroma de molho e salsa vinha do lado de fora, deixando a casa com o ar leve de um sábado ensolarado.
- Vocês vieram rápido. - disse uma voz, aparentemente vindo da cozinha - Luci me contou sobe vocês, me disse que eram muito eficientes. Mas eu não esperava tanta eficiência..- disse rindo.
Dentre as cortinas, surgiu um homem. Aparentava 20 anos de idade, alto e muito forte. Vestia um terno caqui e sapatos sociais da mesma cor. Sua pele era branca, cabelos negros e olhos castanhos. Nas mãos trazia uma xícara de chá quente e o jornal do dia.
- Bene... - disse sentando - que educação a minha. Sou Pedro Alguste. Mas podem me chamar de Pedro. Já se foi o tempo em que cortesias eram necessárias.
- Bom, acho que já nos conhece. Kevin e Joe.
- Engraçado - levou a xícara à boca e tomou um gole - parece nome de banda. Mas vamos ao que interessa. Quantos já foram encontrados?- disse com um sorriso no rosto
- Encontrados? Quem deveria ser encontrado? - o sorriso de Pedro desapareceu imediatamente.
- Então vocês ainda não sabem? Eu imaginei que ... - largou a xícara na mesa de centro e foi até a lareira - Luci fez parecer que já sabiam de tudo. Mas parece que ela se enganou.
- Você conhece Luci? Como? - Joe olhava para Kevin sem entender, continuou a falar - Luci se foi a quase 50 anos, e você parece ter só 20.
- Pensei que fossem mais espertos também ...
- Nos perdoe. O Joe aqui ta sofrendo um pouquinho com o fuso horario. Acho que você poderia começar explicando tudo que deveríamos saber. O que acha?
- Claro. A luz sempre guia não é?!
- Claro...- sua voz era vaga, ambos sabiam que a conversa seria longa.
***
- Vocês devem saber da historia inicial dos Revivals não?
- Se for a dos elementos da natureza e tudo mais sim. Eu sou do ar, ele é do fogo, Luci era da água. Como acontece com todos.
- Touché! Não com todos. Existe uma historia diferente. Segundo às historias, iriam existir sete casos em que o convencional não aconteceria.
"O normal, é que a pessoa morra, e quando estiver prestes a fazer sua passagem voltem. Normalmente o elemento relacionado é o elemento que te ajudou a morrer. Mas, as coisas mudaram para sete renascidos. A morte continua presente em todas as situações, o  que muda é como recebem a segunda chance."
- O que acontece de tão diferente?
- Acontece que, renascidos normais são pegos de surpresa. Estão fazendo seu caminho pra a morte e são interrompidos. Agora, essas sete exessões, elas não vão até a morte. Elas param no meio do caminho e esperam que algo aconteça.
"Os renascidos normais têm de um a três dons, é raríssima as vezes que têm quatro. Eles se alimentam de almas humanas depois de certo tempo. Alguns, como fogo e ar ganham a imortalidade. Outros como a terra e agua, apenas duram mais do que humanos. Porem, esses escolhidos, os sete, têm a imortalidade garantida, e dons de força inimaginável. Vão descobrindo aos poucos o que podem fazer, até perceberem que são diferentes demais. E isso é o que trás vocês aqui."
- O que exatamente nós temos a ver com toda essa historia?
- Bom, esses sete são chamados de "as sete chaves", cada um descende de um fenómeno ou elemento. Não como os elementos de vocês, coisas diferentes. Até hoje eram em conhecidos apenas seis. Mais exatamente, Vida, Corpo, Som, Sombra, Luz e Mente. Porem, a sétima chave foi descoberta. Acho que sabem de quem estou falando. Poderes demais, passado e vida misteriosa, tudo sempre parece apontar e atrair à ela. Pelo que me lembro, acho que se chama Sofia.
- Na verdade Sofie.
-Passei perto.- falou com satisfação.
-Mas o que Luci tem a ver? Porque a Sue?
- Perguntas demais meu caro. Mas acho que você tem direito a respostas, porque afinal, vocês vieram até aqui atrás de respostas, e é isso que lhes darei.