- Bom acho que vocês entenderão melhor conhecendo a minha historia.
" Eu tinha apenas 4 anos quando minha família foi brutalmente assassinada. Era ano se 1850, todos foram mortos, inclusive eu. Era uma tarde de segunda feira, minha mãe acabara de voltar da colheita e estava preparando o jantar. Estávamos todos lá, meus pais estavam felizes pois minha irmã mais velha acabara de se casar com um rapaz da cidade. O que trouxe muitas esperanças novas à minha família, uma vida melhor nos aguardava. Longe daquela fazenda tudo seria mais fácil. Mas não tivemos a chance de contestar isso."
"A minha passagem foi interessante, por mais estranho que pareça, tudo se passou na velha estação de trem. A qual por sinal não deveria ser chamada de estação, era apenas uma plataforma de concreto, equipada com dois pequenos toldos furados, deveria ter o tamanho dessa sala. Lembro que era noite, meus pais me chamavam para dentro do trem que anunciava a partida. Mas eu, fui estúpido e quis ficar olhando as estrelas por um tempo. Estavam estranhamente bonitas aquela noite. No fim, meus pais se foram."
"Só depois que eles já haviam partido percebi as marcas de tiro nas minhas roupas, e o sangue que havia se espalhado pelo meu corpo. Aquilo não doía. Sentei na perto dos trilhos e esperei o próximo trem. Como podem ver , ele não chegou."
"Acordei alguns dias depois na minha cozinha, os corpos dos meus familiares ainda jaziam sobre a mesa. Meus ferimentos haviam sumido, e quando olhei no espelho, eu já não tinha a mesma forma. Foi então que descobri o que eu era."
- Sinto muito - disse Joe, ele entendia o que o homem havia passado
- Não sinta, eu estou feliz, ou pelo menos eu finjo bem. Sabe - ele se dirigiu ao espelho próximo à entrada da cozinha - todas as manhãs eu acordo e penso"o que eu vou ser hoje?", eu posso escolher ser um menino de rua com a sua bola, ou ser uma velhinha de óculos indo fazer compras na feira, e alem disso eu posso me curar com facilidade, não existem cicatrizes daqueles tiros. Mas toda, toda vez que eu vejo meu reflexo, a única pessoa que eu queria ser era aquele menino na estação de trem. Se eu pudesse voltar... eu teria partido com as pessoas que eu amava. Porque faz mais de 150 anos que eu assisto mais e mais pessoas morrendo, eu permaneço, apenas para contar as historias do que poderia ter sido.
- É estranho pensar desse jeito, não seria melhor seguir em frente?
- Para onde você espera que eu vá? Para o inferno? Eu já estou nele. - ele tinha sofrimento na voz - Bem, vamos continuar.
"Os anos foram passando e eu fui descobrindo mais dons. Além de poder me transformar em qualquer pessoa e poder me curar, comecei a voltar alguns minutos no tempo, conseguia controlar a energia eletrica, fazia as pessoas sentirem dor e falava com fantasmas. Foi assim que conheci Luci. Ela me contou sobre Sofie."
- O que exatamente ela te disse?
- Na primeira vez, ela me perguntou como mata-la, como fazê-la sofrer. Na segunda vez ela estava preocupada e muito assustada.
- O que pode assustar um fantasma? - perguntou com uma ironia exagerada nos lábios.
- Quase nada. Ela me contou sobre seu novo professor de inglês Joe.
- O professor Silan? O que ele tem a ver com a historia?
- Ele, nada. Mas os sobrinhos deles. Quase tudo. O fato é que nem todos os renascidos são legais e amigáveis. Alguns são insaciáveis. E quando estamos falando dos escolhidos, temos que tomar muito cuidado.
- Como o que?
- Bom, há alguns anos, tive a chance de conhecer Maya. Ela é o que chamamos de renascida das sombras. Como eu sou um filho da Luz fiquei curioso e fui averiguar. E vou avisando, ela não é boa pessoa.
- Como ela pode nos atingir?
- Simples, ela consegue induzir as pessoas a fazerem coisas horríveis e só os mortos podem vê-la. Ela vaga pelos lugares em forma de sombra, algo maligno que pode perturbar os mais corajosos. Fiquei sabendo que Sofie desmaiou em sala não foi ?
- Sim, mas...
- Mas??
- Ela costuma fazer isso.
- Desde quando?
-Desde que nós contamos o que ela era. - disse Kevin baixinho, a ironia da sua voz havia sumido, agora só havia um ar tenso pairando sobre a sala .
- Detesto dizer, mas a essa hora, um bom numero de renascidos já deve estar em sua cidade atrás de Sofie.
- O que? Deixa eu entender uma coisa. Tudo bem ela ser uma das escolhidas, ser especial e tal. Mas porque estão atrás dela? Porque não atrás de você? Ou dessa Maya? E o que são os sobrinhos de Silan? Eles são...
- Escolhidos? Sim eles são dois escolhidos, mais exatamente Corpo e Mente. Irónico não?! -ele sentou-se e tomou mais um gole do chá.
- Mas quanto à Sofie?
- Bom, ela é bem jovem, carne nova. - ele riu baixinho - Pelo menos foi o que eu pensei no começo. Até que refiz as contas. Fora o som, todos têm um oposto. Luz e sombra, corpo e mente, vida e ...
- Morte...- disse Joe baixinho, num som quase inalditivel.
- Exato, morte. É por isso que a querem, ela domina sobre todos os outros. A morte pode acabar com o fogo, com a agua, com o ar e com a terra. O equilíbrio será quebrado se a Morte perecer.
- Preciso ligar para ela agora. - disse Joe pegando o celular e discando o numero.
- Acho que não precisa...
Uma toque idêntico ao de Sofie tocou dentro da cozinha, e de lá, ainda vestindo chinelos e pijama, saiu Sofie aos prantos. Ela correu para os braços de Joe e o abraçou forte.
- Como você chegou aqui?
- Eu não faço ideia- ela soluçava dentre as palavras - só sei que precisava falar com você urgentemente e vim parar aqui.
- O que aconteceu?
- Isso. - ela abriu a mão e deixou à mostra o papel, onde ela havia transcrito as palavras do se sonho e as do seu espelho. - O que quer dizer?
- Acho que eu posso te explicar melhor. - disse Pedro se ajeitando na poltrona - me falaram que você lê livros apenas no toque. Pode fazer isso com humanos também ?
- Não sei, eu nunca ...
- Tente - ele esticou a mão para tocar a dela. Ela respondeu segurando a dele.
Foi apenas ele pensar no que queria dizer a ela que instantaniamente ela absorveu cada informação apenas no toque de alguns segundos. Ela secou as lágrimas e olhou par todos na sala:
- Isso é verdade?
- Acreditamos que sim Sue.
- E o que faremos agora?
- Onde você estiver eles vão te encontrar, eles podem te rastrear como você os rastreou - disse olhando para Kevin e Joe - todos nos devemos ir para sua cidade, descobrir que esta conosco e quem esta contra nós. Assim saberemos o que fazer.
- Vou ligar para o aeroporto.
- Não precisa, sei de um jeito mais rápido. - disse Sofie
A sala ficou vazia em segundo, restando apenas uma xícara de chá pela metade e um papel com a profecia amassada.
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